4 mitos sobre a indústria 4.0

11/02/2019
4 mitos sobre a indústria 4.0

Alto custo e dificuldade para implantação de alta tecnologia em pequenas empresas são principais entraves listados

Como toda nova tendência, a quarta revolução industrial trouxe à tona uma série de questões sobre a incorporação de novas tecnologias nos sistemas de produção. Segundo artigo publicado pelo Fórum Econômico Mundial, os executivos citam o “alto custo” e a “dificuldade em justificar o investimento sem um retorno no curto prazo” como as principais razões que impedem a adoção de novas tecnologias na empresa.

À medida que a quarta revolução industrial é discutida no mundo, vários mitos acabam surgindo e podem estar segurando o potencial transformador desta nova era da produção.

Na avaliação do fórum, acabar com essas lendas é importante para acelerar a adoção e integração das soluções da indústria 4.0 e liberar os benefícios da produção tecnológica para as indútrias de todo o mundo.

Confira abaixo os principais mitos: 

1. A tecnologia é cara demais

Por décadas, “tecnologia” e “inovação” têm sido sinônimo de “caro”. As primeiras versões do DVD, da TV de tela plana e do tablet, por exemplo, foram vendidas a preços exorbitantes. 

Contudo, segundo Ian Cronin, autor do artigo, a vantagem da tecnologia 4.0 é que ela pode fazer muito sem que seja necessário "levar uma empresa à falência". "Com uma combinação de dados coletados pela internet das coisas, uma empresa pode fazer análises e se tornar muito mais eficiente e ágil", escreve ele para o Fórum Econômico Mundial.

Embora a compilação e a organização de dados exijam uma quantidade significativa de trabalho, o retorno vem em otimização de procesoss, redução de energia dispendida, qualidade do trabalho final, menor frequência de manutenção e maior eficácia do equipamento.

Mesmo quando consideramos investimentos mais robustos em tecnologia, como em robótica avançada, o custo/benefício permanece a favor da inovação.

De acordo com Cronin, não só os preços dos robôs e da automação estão caindo, mas essa queda acontece à medida que os custos da mão de obra aumentam. Outro benefício é que a capacidade dos próprios robôs também está em alta.

Um estudo do McKinsey Global Institute estima que os pioneiros na adoção da inteligência artificial terão um aumento do fluxo de caixa de 122% até 2030. Enquanto isso, aquelas empresas que seguirem a tendência geral com atraso verão um crescimento de 10%. Os altos custos da tecnologia, segundo o instituto, serão compensados pelos ganhos de produção. 

O preço da tecnologia avançada também está em queda no Brasil, conforme as empresas adotam novos recursos em larga escala. E o retorno justifica os gastos. "A vantagem da inovação se dá nas duas pontas do negócio: reduz custos operacionais e aumenta a eficiência da indústria", afirma Marcelo Graglia, professor do departamento de administração da PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo) e especialista em transformação digital.

2. Indútria 4.0 vai causar desemprego generalizado

A quarta revolução industrial na manufatura é frequentemente associada a robôs e algoritmos inteligentes capazes de assumir as tarefas de humanos, criando fábricas nas quais os humanos não são mais necessários, analisa Cronin. Essa visão gera o medo do desemprego em massa.

Embora não haja dúvidas de que as tarefas repetitivas vão diminuir, relatórios recentes apresentam uma perspectiva mais positiva para a força de trabalho. Relatório "O Futuro dos Empregos", do Fórum Econômico Mundial, aponta que 75 milhões de empregos desaparecerão e 133 milhões novas vagas serão criadas no mundo todo até 2022 por conta da tecnologia.

Segundo o artigo, não só haverá mais empregos, como as novas vagas também serão mais atrativas, com tarefas mais diversificadas e desafiadoras, que vão valorizar a criatividade, resolução de problemas e habilidades de comunicação interpessoal.

Na manufatura, é esperado um declínio de vagas para o "chão de fábrica" — como montagem, inspeção de qualidade e técnicos de manutenção. Essa queda será compensada pela expansão de vagas nos campos de análise de dados, inteligência artificial, desenvolvimento e tecnologias de software e aplicativos. O desafio a ser superado, então, é reutilizar a força de trabalho existente, afirma Cronin.

No Brasil, o futuro do mercado de trabalho pode não ser tão promissor, caso políticas de estímulo ao emprego e qualificação profissional não sejam implementadas, na avaliação de Graglia. "Pensando em escala, ainda que haja excedente de emprego em novas funções com poucos profissionais qualificados, o país ainda enfrentará o desafio do desemprego em massa, como temos hoje", pondera o professor. 

Segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), o Brasil fechou 2018 com 12,2 milhões de desempregados.

3. Empresas devem abrir mão do lucro para ter sustentabilidade

Para muitos líderes empresariais, falar sobre sustentabilidade continua sendo uma estratégia de marketing ou um sinal de que a empresa vai abrir mão do lucro para se tornar "verde". Essa mentalidade — de que é necessário escolher entre o que é ideal para o negócio e o que é sustentável — deve mudar.

Para fazer isso, precisamos primeiro mudar a maneira como pensamos. Hoje, sustentabilidade é muito mais do que plantar árvores ou colocar alguns painéis solares no telhado — embora essas práticas ainda sejam boas. Em vez disso, precisamos pensar em sustentabilidade em termos de contribuir positivamente para a força de trabalho, a sociedade em geral e o meio ambiente.

Na avaliação de Cronin, ser sustentável não exige mudanças massivas. A instalação de controles inteligentes de iluminação, por exemplo, pode economizar mais de 40% de energia.

4. A revolução industrial pode ser aplicada apenas em multinacionais

Existe um entendimento comum de que apenas multinacionais em mercados desenvolvidos podem implantar e se beneficiar da indústria 4.0.  No entanto, isso nem sempre procede, de acordo com artigo “Quarta Revolução Industrial: Faróis de Tecnologia e Inovação na Manufatura”.

O texto cita uma pequena empresa italiana com 250 funcionários, que apostou em tecnologia avançada com uma pequena equipe e investimento limitado. A empresa criou total transparência em seu processo de produção, a fim de identificar e resolver a causa raíz de desvios de qualidade e perdas de desempenho. Após um ano, registrou crescimento de receita de 7% a 8%.

As pequenas empresas podem ser prejudicas pela quarta revolução industrial em termos de competividade, segundo o professor da PUC-SP. A maioria delas não dispõe de recursos para implantar inovação, tampouco equipe qualificada para trabalhar com esses sistemas. Por outro lado, ele destaca as startups que nascem no meio tecnológico são diferenciadas por si só. "Elas podem ocupar nichos de empresas tradicionais que não têm o DNA de inovação e prosperar com produtos e serviços disruptivos", explica o especialista.

"Se os fabricantes puderem ver esses quatro mitos coletivamente pelo que são — barreiras impostas por eles mesmos —, então finalmente poderemos liberar todo o potencial tecnológico da indústria e inaugurar uma nova era de inovação, produtividade e crescimento inclusivo", diz Cronin.

Fonte: Época Negócios

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